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Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia Criados em Cativeiro favorece a readaptação gradual à natureza

Editoria: Vininha F. Carvalho 17/05/2012

O trabalho intitulado “Quando apenas retornar para a natureza não é suficiente: novas etapas para a reintrodução de peixes-bois da amazônia no Brasil” do biólogo pesquisador da Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) que atua em parceria com o Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Diogo Souza, mostrará a implementação do processo inédito de semi-cativeiro de peixes-bois da Amazônia e a adaptação desses animais ao novo ambiente, durante o X Congresso Internacional de Manejo de Fauna Silvestre na Amazônia e América Latina, em Salta, Argentina, que acontece de 14 a 18 de maio.

Os resultados foram obtidos por meio de experimentos do Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia Criados em Cativeiro, realizado desde 2008 pela Ampa e Inpa, por meio do LMA, com o apoio da Petrobras e sugerem que peixes-bois da Amazônia mantidos em cativeiro, por curtos períodos de tempo, apresentam alta percepção do ambiente natural e maior habilidade na readaptação à natureza.

“O sucesso do programa de reabilitação no Inpa gerou um excedente de indivíduos prontos para retornarem à natureza, tornando viável a reintrodução no ambiente natural de peixes-bois cativos visando à manutenção das populações naturais da espécie”, explica Souza.


Números de resgates:

Nos últimos dez anos, 77 filhotes órfãos de peixes-bois da Amazônia foram levados ao Parque Aquático Robin C. Best do Inpa e ao Centro de Preservação e Pesquisa dos Mamíferos Aquáticos (CPPMA), situado na área de atuação da Usina Hidrelétrica de Balbina – Presidente Figueiredo. Os animais foram resgatados pelo Ibama ou Polícia Ambiental; desses, 68 foram reabilitados pela Equipe.


Programa de Reintrodução:

Com o intuito de fechar o ciclo: resgate, reabilitação e soltura, a primeira reintrodução foi em março de 2008. Quatro exemplares voltaram para a natureza. O monitoramento pós-soltura, segundo pesquisadores da Ampa e Inpa, é fundamental para verificar a adaptação dos animais às novas condições de vida e a utilização do habitat, bem como avaliar o sucesso das reintroduções.

“Dos quatro animais que voltaram à natureza, dois morreram, um perdeu o cinto com o rádio transmissor, e o quarto foi encontrado muito debilitado e trazido de volta para o Inpa.

Hoje ele já está recuperado e é novamente candidato a voltar a viver nos nossos rios amazônicos. Por isso que o protocolo de soltura foi alterado.

Colocamos mais uma etapa no Programa que é o semi-cativeiro. Nós percebemos que ele favorece a readaptação gradual dos peixes-bois à natureza, permitindo aclimatar os indivíduos às condições naturais do ambiente, como temperatura, turbidez, correnteza da água, variação sazonal do nível dos rios, alimento natural e minimizar o comportamento estereotipado de natação nos tanques do LMA/Inpa onde foram criados”, ressalta Souza.


Semi-cativeiro:

Em outubro de 2011, três animais que viviam em cativeiro no Inpa foram translocados para um ambiente de semi-cativero, no município de Manacapuru, interior do Estado do Amazonas, distante da capital 68km. Em março deste ano, mais dois exemplares da espécie foram também encaminhados para este recinto. Paricatuba, Iranduba, Matupá, Mapixari e Anori foram os contemplados para participar dessa etapa.

“Oito animais foram avaliados sob critérios de idade, peso, tamanho, baixa domesticação e estado clínico. Desses, escolhemos três machos e duas fêmeas que foram considerados aptos para a soltura”, explica Souza.


Resultados e discussão:

Nos primeiros dias após a liberação, Matupá e Paricatuba permaneceram juntos, próximos ao local de soltura, e mantiveram o comportamento estereotipado de natação do cativeiro. Após este período, os animais gradativamente se afastaram e começaram a nadar por todo recinto.

Diferentemente dos machos, Iranduba apresentou maiores deslocamentos e alto ritmo de atividade. Desde o início da soltura, permaneceu independente, explorando todo o recinto, deslocando-se para áreas mais profundas e com maior circulação de água. O animal chegou ao Inpa em outubro 2010, com idade estimada de um ano e permaneceu por mais 12 meses em cativeiro.

Em abril de 2012, outros dois animais em condições semelhantes aos anteriores, foram liberados no semi-cativeiro, Mapixari e Anori. Para esses animais, ainda não existem resultados analisados.

“A fase de pré-soltura (semi-cativeiro) mostra-se como requisito fundamental para auxiliar a readaptação gradual de peixes-bois da Amazônia, criados em cativeiro, às condições dos rios amazônicos”, conta Souza.

Os resultados sugerem que peixes-bois da Amazônia mantidos em cativeiro por curtos períodos de tempo, apresentam alta percepção do ambiente natural e maior habilidade na readaptação a um novo ambiente, reforçando a importância de escolha adequada dos animais para integrar programas de reintrodução com a espécie.

O biólogo explica ainda que esses resultados podem ser importantes para a conservação dessa espécie, atualmente ameaçada de extinção.

“Por se tratar de um projeto em longo prazo, as experiências e resultados acumulados até o momento são extremamente importantes para traçar as diretrizes de manejo e conservação dessa espécie endêmica e vulnerável da Amazônia”.

Fonte: Clarissa Bacellar