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Fogo espalha rastro de destruição no Parque Nacional Chapada Diamantina

Editoria: Vininha F. Carvalho 24/10/2008

Desde terça-feira (14/10), dois grandes incêndios consomem boa parte da vegetação e promovem o extermínio de animais no centro-leste e extremo sul do Parque Nacional (Parna) da Chapada Diamantina, mais precisamente nos municípios de Andaraí e Ibicoara. Na manhã da terça-feira (21/10), um terceiro foco foi detectado no município de Mucugê. Mais de 80 brigadistas lutam para apagar os três incêndios, mas o fogo continua espalhando o rastro de destruição. O parque ocupa uma área de 153 mil hectares no centro do estado da Bahia.

Essa situação não é nada atípica. A riqueza natural do Parque Nacional (Parna) da Chapada Diamantina (PNCD) é desafiada constantemente pelo fogo, um inimigo que transforma em cinzas a diversidade da fauna e flora na região. O parque lidera uma triste estatística: é a unidade de conservação recordista em incêndios no Brasil. Nos últimos sete anos, 100 ocorrências, em média, são registradas a cada 12 meses. Tão estarrecedor quanto a quantidade devastadora de incêndios é constatar que 95% dos focos combatidos na área são provocados por pessoas que moram e ganham a vida no interior ou entorno do parna.

Os dados são resultado de um levantamento feito pelos analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e brigadistas que trabalham no local. Segundo eles, apenas 1% do fogo que atinge a Chapada é decorrente de causa natural – os relâmpagos.

Para Pablo Casella, analista ambiental da unidade desde 2002, o fogo é, atualmente, o maior inimigo do Parque. “Infelizmente, apesar de termos planos de prevenção e combate e contarmos com o apoio de um verdadeiro exército de voluntários e brigadistas é fácil constatar que estamos perdendo essa guerra” conta.

Preocupado com a situação, Casella ranqueou os campeões de queimadas em território brasileiro segundo os Relatórios de Ocorrência de Incêndios (ROI) elaborados pelas respectivas unidades de conservação.

“Compilei dados referentes a meia década. De 2002 a 2006, o PNCD registrou 440 incêndios. Um número absurdo quando comparamos com as ocorrências do segundo Parna que mais sofre com o fogo, que é o de Ubajara, no Ceará, com 188 registros no mesmo período. O terceiro lugar nesse ranking fica com o Parna da Serra do Cipó, em Minas Gerais, com 142 notificações”, lamenta.

Documentos da Coordenação do Núcleo de Prevenção de Combate do Prevfogo revelam que no período compilado por Casella pelo menos 22 mil hectares do PNCD foram consumidos pelo fogo. “A época considerada crítica na Parna da Chapada Diamantina, com maior incidência de focos, vai de agosto a fevereiro. Nesses meses, a situação é realmente grave porque as chuvas são mais escassas. Para se ter uma idéia, a quantidade de vegetação destruída pelo fogo de 2002 a 2006 é equivalente a 22 mil campos oficiais de futebol”, alerta o coordenador do Núcleo, José Carlos de Morais.

Em 2007, o prejuízo também foi de grandes proporções. Mais de 12,5 mil hectares do Parque viraram cinzas. “Como o PNCD ainda não tem sua situação fundiária regularizada. A presença de agricultores e garimpeiros dentro da unidade é um fator determinante nesse cenário de destruição dos biomas encontrados na região. A natureza leva anos para se recuperar e muitas espécies de plantas e animais são perdidas para sempre”, destaca Morais.

De acordo com o chefe do PNCD, Christian Berlinck, as 14 brigadas espalhadas pelos seis municípios que compõem o Parque não conseguem vencer o fogo. “Somos uma unidade privilegiada em relação ao número de brigadistas. Contamos com 150 voluntários e 42 contratados que trabalham inclusive à noite no combate. Essas pessoas arriscam a vida para combater os focos. No entanto, estamos em número muito menor do que aqueles que insistem em incendiar o Parque e destruir esse patrimônio”, revela.

O problema assusta até mesmo os mais acostumados a lidar diretamente com as chamas. Brigadista da região há 20 anos, o baiano Antônio Roque Alves, conhecido como Rocão, se diz desanimado diante de tamanha destruição.

“Não trabalhamos somente no combate. Entendemos que a prevenção, a conscientização e a educação ambiental são aliados importantes na briga contra o fogo. Por isso, vamos até as vilas, garimpos e comunidades para conscientizar quem habita e explora a terra no interior da unidade. No entanto, confesso que há dias em que me sinto inútil. Não estamos conseguindo fazer essas pessoas entenderem que ao incendiar o Parque, elas estão destruindo a própria vida”, afirma.

Fonte: Instituto Chico Mendes