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Serra do Cipó vai monitorar capivaras, controlar capim-braquiária e fortalecer turismo e pesquisa

Editoria: Vininha F. Carvalho 03/10/2008

O Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais, acaba de ganhar três projetos importantes que irão viabilizar a preservação do ecossistema e a melhoria da infra-estrutura da região. Os planos visam a integração entre a pesquisa e o manejo da unidade de conservação, que fica a cerca de 100 Km de distância de Belo Horizonte.

O objetivo das propostas é garantir parcerias e recursos para o trabalho de temas urgentes, como o monitoramento de capivaras que habitam o parque e a Área de Proteção Ambiental do Morro da Pedreira, o controle do capim-braquiária e a implementação de um centro de referência que permitirá organização de uma estrutura para expedições turísticas e científicas.

Os projetos foram propostos pela equipe de coordenadores do parque, mas serão executados por meio de parcerias com fundações privadas, mobilização social e voluntária, instituições de ensino e de pesquisa e até agências ambientais internacionais. Para a analista ambiental e coordenadora técnica dos projetos, Kátia Torres Ribeiro, a preservação efetiva de parques como o da Serra do Cipó passa essencialmente por iniciativas que envolvam todos os setores da sociedade.

“Esse envolvimento múltiplo facilita o processo de conscientização. Por isso, procuramos parcerias com empresas, universidades, escolas e com a própria população que vive nos arredores da unidade de conservação”, diz.

CIPÓ-VIVO:

Um dos projetos, já conhecido dos moradores da região e chamado de “Cipó-Vivo”, está em prática há dois anos e foi renovado graças ao cumprimento de metas estipuladas pela Fundação O Boticário de Proteção da Natureza, que financia a empreitada.

“A proposta é controlar a braquiária e promover a revegetação com espécies nativas na baixada do Rio Cipó. Na primeira fase, que começou em 2006 e terminou o mês passado com a renovação da parceria, promovemos a maior vivência das pessoas de comunidades do entorno com o Parque. Ela preparou o terreno para nossas futuras ações, digamos assim”, detalha Kátia.

A analista ambiental explica que o capim-braquiária é uma gramínea africana, trazida para o Brasil no século passado para ser estudada como planta formadora de pastagem. A espécie é muito tolerante ao pisoteio do gado, gosta de sol, tolera condições precárias de solo e foi rapidamente adotada pelos criadores de gado porque suas sementes se espalham e germinam com muita facilidade.

“O problema é que a braquiária pode se tornar um vilão para áreas de cerrado das unidades de conservação por competir duramente com as plantas nativas. É que ela tem efeito alelopático, isto é, secreta substâncias que inibem o crescimento de outras espécies, o que gera uma perda significativa de diversidade, principalmente dentre as plantas de pequeno porte”, adverte.

Com muito cuidado e sem a intenção de condenar os produtores que se valem da braquiária para formar os pastos de suas pequenas propriedades, os coordenadores do Parque Nacional da Serra do Cipó viram que era fundamental conscientizar a população sobre a importância do monitoramento e controle da espécie.

Em parceria com a Escola Estadual Dona Francisca Josina, que atende a todos os estudantes da Serra do Cipó, nasceu um braço do Projeto Cipó-Vivo chamado Pesquisadores Mirins. O trabalho envolveu cerca de 120 alunos do 6º ano.

“Nosso intuito era trabalhar a percepção dos estudantes em diversos ambientes para que eles percebessem que nosso ecossistema é compostos por variadas cores e formas, ao contrário do que pode acontecer quando a braquiária é a única vegetação presente no meio”, lembra Kátia.

Ao longo dos meses, o projeto cumpriu seu papel. Os estudantes descobriram as diversas facetas da braquiária e viram que não se pode considerá-la apenas como um problema ou solução. A planta é, acima de tudo, um desafio.

“Não estávamos condenando os pais dos estudantes, nem chamando-os de mentirosos, e sim disseminando a idéia de bem comum, bem público, pois o parque é de todos, é um patrimônio que tem que ser cuidado”, pondera a coordenadora.

“Esse projeto provou que bons resultados são alcançados com ações insistentes, e consistentes em termos conceituais. O tema braquiária e espécies invasoras entrou no dia-a-dia da comunidade e agora estamos prontos para tocar a segunda fase dessa iniciativa, que formará pesquisadores mirins capazes, inclusive, de apoiar as visitas da própria escola e de turistas ao Parque. ”, acrescenta.

CAPIVARAS:

O segundo projeto, muito comemorado pelos coordenadores da unidade de conservação é fruto de uma parceria com o Departamento de Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele foi aprovado e será financiado pela Wildlife Conservation Society. Apesar do nome extenso, "Inter-relações capivaras/ectoparasitos e a possibilidade de transmissão da Febre Maculosa Brasileira e outras riquetsioses na área turística da Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil", seu objetivo é simples.

A intenção é elaborar um plano de manejo da capivara, roedor que a população local acusa como responsável por causar uma série de danos ambientais, como a poluição dos rios, desmoronamento das margens, excesso de carrapatos e destruição de ninhos de traíras.

Os moradores da região do Parque também responsabilizam o animal pela contaminação da água com fezes e surgimento de problemas de saúde como a febre maculosa e outras doenças.

Para a analista ambiental Kátia Torres Ribeiro, a iniciativa permitirá que os pesquisadores verifiquem até que ponto a capivara, que é o maior roedor das Américas, é responsável por todas essas mazelas.

“Vamos quantificar e identificar os carrapatos de vida livre dentro e fora do Parque, em áreas só com capivaras, só com cavalos e com ambas as espécies. Outros dados serão levantados para descobrirmos qual a relação entre as capivaras e destruição de margens de rios, por exemplo, e qual a contribuição do gado para este processo”, explica.

A comunidade também será envolvida. “Quando tivermos dados consistentes, faremos oficinas com profissionais de saúde, lideranças e estudantes. A elaboração de um plano de manejo irá depender dos resultados das pesquisas e das discussões com a comunidade. Acreditamos que esse conjunto de ações permitirá resolver essa questão, que se tornou crítica no Parque Nacional da Serra do Cipó”, avalia Kátia.

PESQUISA:

Um terceiro projeto, batizado de “Towards a strong relationship between science, environmental interpretation and management in Serra do Cipó National Park, Brazil” tem parceria com o programa de pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da UFMG. “Ele foi financiado pela USFish and Wildlife Service, que é uma agência ambiental norte-americana. Com ele, pretendemos implantar o Centro de Referência em Pesquisa do Parque Nacional da Serra do Cipó e integrar as atividades do manejo e pesquisa do Parque e da área de Proteção Ambiental do Morro da Pedreira”, conta a analista.

Kátia comemora o fato dessa terceira iniciativa também contemplar a formação de um grupo de pessoas das comunidades próximas ao Parque. Os moradores serão preparados para se tornarem guias de campo e trabalharão com visitantes e pesquisadores. A coordenadora técnica conta ainda que os alunos do curso de pós graduação do UFMG serão incentivados a fazer a ponte entre culturas e linguagens.

“Isso significa que eles terão o compromisso de comunicar os resultados de pesquisa a um público de não cientistas. Acreditamos que a chave para o desenvolvimento responsável da Serra do Cipó é a interpretação ambiental. Com ela é possível ultrapassar as fronteiras do turismo de aventura, casando cultura e o vasto patrimônio ambiental”, conclui.

Fonte: Instituto Chico Mendes