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Pesquisadores descobrem 14 novas espécies de vertebrados em estação ecológica do Cerrado

Editoria: Vininha F. Carvalho 21/05/2008

Pelo menos 14 novas espécies (oito peixes, três répteis, um anfíbio, um mamífero e uma ave) foram descobertas durante expedição de campo feita na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins – unidade de conservação gerida pelo Instituto Chico Mendes. Entre elas, há um lagarto sem patas, um sapo com chifres e um pica-pau-anão.

O lagarto, chamado de Bachia, de comprimento entre 15 e 20 centímetros, lembra uma cobra por não ter patas e por apresentar um focinho pontudo, o que o ajuda a locomover-se sobre o solo predominantemente arenoso da região.

A expedição durou 29 dias e foi realizada por 26 pesquisadores da Universidade de São Paulo, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de São Carlos, da Universidade Federal do Tocantins e da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil).

Ao todo, eles registraram cerca de 440 espécies de vertebrados no local. A expedição é considerada o mais amplo estudo já produzido sobre o bioma Cerrado. Das espécies mapeadas, 259 são aves, 61 mamíferos, 52 répteis, 40 anfíbios e 30 peixes. Os resultados consolidados serão utilizados como subsídio para a elaboração do plano de manejo da estação ecológica, criada em 2001, e em fase de implantação.

Para o diretor substituto de UCs de Proteção Integral do Instituto Chico Mendes, Ricardo Soavinski, as estações ecológicas possuem como objetivo básico estimular a realização de pesquisas científicas.

“Os resultados do levantamento realizado na Serra Geral do Tocantins comprovam que é muito importante continuarmos estimulando parceiras com universidade e ONGs dedicadas à pesquisa científica, no sentido de levantarmos o máximo de informações sobre a biodiversidade existentes nas unidades de conservação", afirma.

Para o chefe da estação ecológica, Wadji Mishmish, as descobertas são chave para a melhoria da gestão da unidade, e para a valorização do Cerrado tão desconhecido em sua biodiversidade. “Muitos olham para o Cerrado e o vêem como apenas gramínea, à espera de pastos ou lavouras. Mas ele é riquíssimo, assim como o Brasil, que não está restrito à Amazônia e Mata Atlântica”, afirma Mishmish.

Foram também obtidos vários registros de espécies ameaçadas, como a arara-azul-grande, a suçuapara, o tatu-bola, o pato-mergulhão e o inhambu-carapé. Os pesquisadores registraram ainda espécies endêmicas do Cerrado, ou seja, aquelas que só são encontradas na região, e coletaram dados que demonstram a ampliação da distribuição de espécies nunca antes encontradas no Jalapão.

O coordenador da expedição, o biólogo Cristiano Nogueira, do Programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil, explica que os pesquisadores, divididos em grupos e turnos de trabalho de acordo com o grupo de vertebrados estudado, coletaram dados em mais de 20 localidades da estação ecológica e entorno, nos estados da Bahia e do Tocantins.

Dessa forma, puderam amostrar as principais unidades de paisagem da região, caracterizada pelo contato entre o planalto da Serra Geral e as planícies da bacia do Tocantins.

“Foram obtidos dados inéditos sobre a riqueza, a abundância e a distribuição da fauna de uma das mais extensas, complexas e desconhecidas regiões do Cerrado”, diz Nogueira. “Os novos dados geram uma visão melhor da riqueza de espécies da maior estação ecológica do Cerrado, cuja fauna ainda era pouco estudada”, afirma.

“Algumas das espécies registradas, com distribuição possivelmente restrita à região da estação ecológica, dependem do bom manejo na área protegida e seu entorno imediato”, completa.

A estação Ecológica Serra Geral do Tocantins é a segunda maior unidade de conservação do Cerrado, com 716 mil hectares, e uma área prioritária para a conservação da biodiversidade brasileira. Segundo Luís Fábio Silveira, pesquisador do departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo, esse tipo de levantamento é imprescindível para aumentar o conhecimento básico sobre a biologia das espécies.

“A partir dele podemos obter dados sobre a anatomia, a biologia reprodutiva, o ciclo de vida e a alimentação das espécies, o que nos auxilia em futuros programas de conservação”, afirma.

Histórico:

Os resultados de uma primeira expedição, realizada em abril de 2001 na estação ecológica e coordenada pela ONG Pequi com o apoio da CI-Brasil, foram fundamentais para traçar o desenho original da estação.

Depois de sua criação, no mesmo ano, as únicas pesquisas prévias na estação ecológica foram conduzidas em 2002 pelos biólogos Cristiano Nogueira e Ana Paula Carmignotto, que incluíram a região da reserva em estudos de doutorado sobre répteis e pequenos mamíferos do Cerrado.

“É gratificante poder retornar e dar continuidade aos estudos, expandindo a amostragem para todos os grupos de vertebrados e para porções desconhecidas da estação ecológica”, diz Nogueira.

Até mesmo no grupo dos lagartos, relativamente bem conhecido devido às amostragens recentes na região do Jalapão e no Cerrado, foram encontradas espécies desconhecidas e novos registros de distribuição. Uma espécie de lagarto recém-descrita por membros da equipe e conhecida de poucas regiões do Cerrado foi encontrada, por exemplo, na porção mais ameaçada da unidade, no planalto da Serra Geral na Bahia.

Apesar de ter sido concluída boa parte do trabalho de campo, o trabalho não termina aqui. Começa agora a fase de análise meticulosa dos dados e comparação do material obtido, que irá gerar os resultados finais do estudo. As informações coletadas estão sendo consolidadas pela equipe de pesquisadores que participaram do levantamento.

A expedição é parte de um projeto financiado pela Fundação O Boticário de Conservação da Natureza e da Fundação Gordon e Betty Moore, com o apoio da ONG Pequi - Pesquisa e Conservação do Cerrado.

Fonte: Instituto Chico Mendes