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Brasil vai combater espécies invasoras

Editoria: Vininha F. Carvalho 04/04/2006

O Brasil tornou-se o primeiro país da América Latina a integrar uma iniciativa para controlar o impacto da entrada, no país, de vegetais e animais vindos de outros ecossistemas — as chamadas “espécies invasoras”. Às vezes introduzidas com o objetivo de combater pragas ou aumentar a produtividade, às vezes trazidas por acaso (em meio a cargas de navios, caminhões e aviões), elas são consideradas a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo, atrás apenas do desmatamento.

Entre os principais invasores estão grandes conhecidos dos brasileiros, como o mosquito Aedes aegypti que, como o próprio nome indica, vem do Egito e é o transmissor da dengue; os pinheiros, nativos de países do Hemisfério Norte, que invadem áreas de Cerrado; diversas espécies de capim vindas da África, que transformam florestas em savanas; ratos, em geral originários da Índia e da China, que se espalharam pelo mundo graças às navegações; e os pombos, vindos da Europa, e considerados a maior praga urbana aviária do mundo.

Outros, menos conhecidos, também causam prejuízos. Uma vez por semana, as turbinas da usina hidrelétrica de Itaipu precisam parar para a retirada do mexilhão dourado, um molusco nativo do sudeste asiático que se tornou uma praga na América do Sul, especialmente na bacia do rio Paraná.

Já o caramujo-gigante-africano, que pode chegar a 20 centímetros de comprimento e um quilo, disseminou-se no litoral brasileiro, onde não possui predadores; além de ser um vetor de doenças, como de um dos tipos de meningite, o invertebrado destrói lavouras e plantas.

A iniciativa a que o Brasil aderiu, intitulada Programa Global de Espécies Invasoras, prevê como primeiro passo a elaboração de uma grande pesquisa para descobrir quais são as plantas e animais estrangeiros que estão prejudicando os ecossistemas locais e qual a extensão do estrago. Para isso, é preciso investir em taxonomia, a classificação de espécies.

“Se você levar um planta da África do Sul para qualquer botânico aí, dificilmente ele vai poder ajudar. Porque falta conhecimento sobre as espécies exóticas”, diz a pesquisadora Sílvia Ziller, coordenadora do Programa de Espécies Invasoras para América do Sul da organização não-governamental The Nature Conservancy. Ela defende também um maior controle da passagem de organismos vivos nas fronteiras, portos e aeroportos.

“Você pode entrar hoje nos aeroportos brasileiros com o que quiser. Posso encher os bolsos de uma semente nociva e como é que vão saber? Precisa controlar já na porta de entrada”.

Ainda não existem estudos capazes de dimensionar o tamanho do estrago que as espécies invasoras já fizeram no Brasil e em outros países da América do Sul, afirma Sílvia.

“O problema é que a América do Sul é a região do planeta que mais concentra biodiversidade nativa. Ninguém tem mais a perder do que nós”, comenta. Os impactos vão além da destruição ambiental, segundo a pesquisadora, e atingem a produção agrícola e a saúde da população.

A maior parte dessas espécies, destaca, são trazidas intencionalmente. O capim africano foi introduzido no Brasil para servir de pasto; o caramujo-gigante-africano era para servir de alimento, na criação de escargot.

Outros, como o mexilhão-dourado e os ratos, vieram acidentalmente. As “invasões” sempre ocorreram, mas se intensificaram nas últimas décadas em razão do desenvolvimento do comércio internacional e do turismo.

A adesão do Brasil ao programa foi anunciada na COP8 - Oitava Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, que aconteceu em Curitiba (PR), com apoio do PNUD.

O assunto das espécies invasoras só deve entrar na pauta das negociações internacionais da Convenção sobre Diversidade Biológica em 2008, durante a COP 9. Mas os pesquisadores alertam que não se pode esperar para tomar uma atitude mais enérgica contra o problema.

“A meta para redução de biodiversidade é 2010. A COP9 é 2008. Não podemos começar alguma coisa só lá, teremos pouco tempo. Precisamos aproveitar desde já”, diz Sílvia Ziller.

Fonte: Prima Página