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Brasil é o 3º colocado na "UTI da extinção"

Editoria: Vininha F. Carvalho 15/12/2005

Se nada for feito, e rápido, os pontos vermelhos e amarelos de um mapa com áreas de extinção em breve vão corresponder a 794 espécies a menos na Terra - três vezes mais que as criaturas extintas desde o ano de 1500. Um novo levantamento indica que essas espécies estão, na prática, totalmente restritas a locais únicos do planeta, sob o cerco da pressão humana.

A notícia é especialmente ruim para o Brasil e sua já debilitada mata atlântica (não sobra mais que 7% da cobertura original do ecossistema). O país ocupa o terceiro lugar do mundo em número de espécies na UTI da extinção: 39, quase todas nativas da mata que cobria boa parte do litoral brasileiro há cinco séculos.

Tudo está perdido? Não para a equipe internacional de pesquisadores que realizou a análise. Em vez de carregar nas tintas da hecatombe, eles preferem enfatizar a oportunidade que os dados oferecem.

"Pela primeira vez, nós agora sabemos quais são os lugares onde as extinções muito provavelmente vão acontecer a seguir. Ou seja, o resultado é imediatamente relevante para a ação prática", disse à Folha o biólogo Michael Hoffmann, do Centro de Ciência Aplicada da Biodiversidade da ONG Conservação Internacional, em Washington (EUA).

"É claro que esses não são os únicos lugares onde precisamos trabalhar, e os dados não são perfeitos, mas isso não é motivo para deixarmos de agir agora, levando em conta o que já sabemos", avalia o sul-africano Hoffmann, que integra a chamada AZE - Aliança para a Extinção Zero.

Não é de hoje que os biólogos da conservação quebram a cabeça para fazer escolhas ingratas. "Alguns anos atrás, a coisa começou com o esforço de identificar as 25 áreas que continham grande diversidade de espécies e já tinham sido muito devastadas", conta o biólogo Stuart Pimm, da Universidade Duke (EUA).

"O desafio é ir além disso, e é o que esse trabalho faz, trazendo uma receita mais detalhada e global das áreas que precisam de proteção imediata."

Hoffmann e seus colegas trabalharam a partir de dados conhecidos sobre espécies ameaçadas e seus habitats mundo afora. Os dados se restringiram a mamíferos, aves, anfíbios, alguns répteis (tartarugas, jacarés e iguanas) e coníferas (árvores como os pinheiros) - grupos sobre os quais há boas informações disponíveis.

A "nota de corte" do risco iminente de extinção designava locais com pelo menos uma espécie ameaçada, que abrigassem pelo menos 95% de toda a população dela que ainda existe no mundo. Foi assim que eles chegaram a 595 locais, com 795 espécies à beira do abismo. No Brasil, são dois mamíferos (dois macacos, os guigós), 13 aves e 24 rãs, sapos e pererecas.

Enquanto 80% das 245 extinções de 1500 para cá nesses grupos ocorreram em ilhas, lugares vulneráveis por natureza, mais da metade das espécies sob risco iminente agora mora em continentes. Mais de 40% dos locais "insubstituíveis" da lista não estão protegidos legalmente. E, na média, eles estão próximos de áreas com população humana muito densa - como a serra dos Órgãos, na esquina da área metropolitana do Rio de Janeiro.

Essa proximidade pode não ser tão ruim quanto parece, diz Stuart Pimm. "Em áreas como Roraima, onde eu faço trabalho de campo, a falta de presença do Estado e da sociedade acaba facilitando a destruição. Mais gente por perto também pode significar mais pressão pela preservação."

A mensagem é clara: proteger o que resta. "Estamos falando de uma sobrevida entre dez e 30 anos - e muito menos que isso para algumas dessas espécies."

Fonte: Folha Online