Ave de Rapina
Onça
Cachorro
Cavalo
Gato
Arara

Empresa americana quer criar o gato transgênico

Editoria: Vininha F. Carvalho 02/08/2005

A Transgenic Pets, uma pequena empresa de Syracuse (EUA) está tentando modificar a genética de um gato para que ele não provoque alergias, na tentativa de permitir a milhões de pessoas que possam manter gatos como animais de estimação.

Até agora, o gato não alergênico está mais para a teoria do que para a prática. A empresa é uma pequena operação que acaba de sair da casa de seu fundador, o dr. David Avner, um médico de 31 anos que trabalha como residente num pronto-socorro da cidade de Syracuse.

Mas a pesquisa para criar o tal gato é realizada pelo dr. Xiangzhong Yang, contratado da Transgenic Pets, na Universidade de Connecticut. Ele é reconhecido por seu trabalho com clones de animais.

O dr. Young diz estar confiante que em breve o gato antialérgico estará pronto. Ele explica que, além da pesquisa genética, o trabalho exige também a clonagem. O problema é que a engenharia genética ainda não dominou o conhecimento do genoma felino.

Existem outras companhias tentando clonar animais de estimação, para que as pessoas possam ter cópias exatas de seus bichinhos queridos depois que eles morrerem. Mas esta parece ser a primeira companhia que tenta usar a engenharia genética para criar animais de estimação com novas características.

Outros esforços da engenharia genética nesta área têm objetivos como cabras que produzem leite com determinados remédios ou fazer com que os salmões cresçam mais rápido.

O gato antialérgico, no entanto, pode atrair a ira dos amantes de felinos e certamente serão alvo de críticas dos que se opõem à engenharia genética como uma forma de interferir com a natureza.

"Isso é doente", diz a professora de yôga Maria Alfato, de Santa Cruz, Califórnia, que protestava durante uma convenção de indústrias de biotecnologia em San Diego.

Já Carol Barbee, presidente da American Cat Fanciers Association diz que muitos iriam adorar tais gatos, desde que a modificação genética não prejudique o animal.

"Se terminarem com algo que não seja um gato, então nada feito", diz a sra. Barbee.O dr. Avner e sua esposa, que também trabalha na empresa, defendem a idéia. Ambos – bem como sua filha de 5 anos, são alérgicos a gatos.

"Esses gatinhos serão amados e cuidados e levarão alegria às pessoas", dizem.

O Dr. Avner diz que já que gatos não são alimento, não existem grandes preocupações com a segurança e com as regras que regulam os transgênicos. Segundo ele, os gatos transgênicos serão muito mais seguros que tomar medicamentos antialérgicos, como fazem alguns proprietários hoje.

Além disso, os gatos serão modificados de tal forma que essa característica não possa ser reproduzida pelos meios naturais – uma forma de proteger o investimento da Transgenic Pets. A idéia é vender cada um dos bichinhos por preços entre 750 e mil dólares, o mesmo que custam gatos de raça nos Estados Unidos.

Mas a Transgenic Pets ainda não levantou os 2 milhões de dólares que precisará pagar ao Dr. Yang pela pesquisa. Dr. Avaner falará a investidores hoje num fórum para novas companhias no Rensselaer Polytechnic Institue. Segundo o diretor do programa de incubadoras, Bela L. Musits, ele tem um negócio muito interessante.

Os cientistas dizem que a maioria das alergias a gatos são provocadas por uma única proteína, secretada na saliva e usada para manter sua pele úmida. O gene para essa proteína, conhecido como Fel d1, foi isolado e sequenciado há alguns anos atrás.

Para transformar o gato antialérgico em realidade, será preciso retirar esse gene da seqüência de tal forma que a proteína não exista na saliva.

Esse procedimento já é bastante conhecido de experiências com ratos – feitas para descobrir o que acontece quando o gene é retirado. Alguns cientistas também estão tentando fazer isso com as proteínas alergêncicas da comida.

Para fazer o teste, células da pele de um gato serão retiradas e cultivadas in vitro, diz o dr. Yang. O gene será retirado através da colocação de uma cópia defeituosa do mesmo. Então o material genético sem alérgenos será colocado em um óvulo, que será induzido a se transformar num embrião, que poderá ser implantado numa gata. Essa foi a técnica utilizada para clonar carneiros e gado. A partir dos primeiros filhotes – machos e fêmeas – será possível produzir inúmeros gatos antialérgicos, através da procriação natural.

Mesmo assim, há outros desafios. Depois de superar a fase de tornar o gene inativo e clonar gatos, os cientistas precisarão saber os efeitos dessa mudança na pele e em outras funções vitais dos gatos. É muito possível que essa proteína tenha outras funções além de fazer algumas pessoas terem coceiras ou lacrimejarem. Mas o dr. Avner diz que há muitos indícios de que a proteína não é realmente necessária ao gato.

O Dr. Martin D. Chapman, professor de medicina na Universidade de Virgínia e especialista em alergia a felinos, diz que a idéia é interessante, mas alerta que talvez a modificação não funcione para todos.

O Dr. Chapman diz que embora a Fel d1 seja responsável por algo entre 60 e 90 porcento das alergias a gatos, existem outras proteínas que também causam alergias.

Se conquistar sucesso com os gatos, provavelmente o próximo passo da Transgenic Pets sejam os cachorros. Mas essa será uma tarefa muito mais difícil, já que os cachorros são portadores de mais de um alérgeno.

Fonte: NY Times